25 Abr / 2022

Pensar numa língua e trabalhar em outra cansa

Outro dia topei com este texto, escrito pelo Matheus Richard. No artigo, ele fala sobre o esforço adicional exigido de pessoas que não têm o inglês como língua materna, mas que trabalham em empresas onde esse é o idioma oficial de comunicação. Eu não conheço o Matheus. Olhando o perfil dele no LinkedIn, me parece que é brasileiro e fala um inglês excelente. Mesmo assim, ele já sacou que, na rotina das companhias anglo-parlantes, funcionários nascidos e criados em outro idioma passam o dia realizando um processo mental exaustivo e constante: raciocinam instintivamente na sua língua nativa, mas precisam se expressar em outro idioma. (Isso sem contar todas as demais tarefas da rotina profissional.)

Matheus relembra a “sensação de não conseguir dizer exatamente” o que ele queria. E oferece um misto de conselho/desabafo para quem se encontra na mesma situação: “não tem nada de errado quando a gente se sente cansado depois de um dia inteiro trabalhando num segundo idioma. Não tem nada de errado se a gente esquece uma palavra. Não tem nada de errado quando a gente não entende. Não tem nada de errado em ser humano!”

Ele está coberto de razão. E as coisas que o Matheus escreve me convidam a fazer um merchan da minha profissão, na qual acredito e da qual me orgulho. Em reuniões importantes e decisivas, nos momentos em que a gente quer dizer exatamente o que está pensando, nas ocasiões em que a empresa deseja oferecer a todos a mesma possibilidade de entender e falar com segurança e fluência, não importa a nacionalidade de cada um… Em situações como essas, os intérpretes de conferências podem ajudar. Muito.

A presença do intérprete libera as pessoas do processo mental ininterrupto descrito pelo Matheus, do cansaço de pensar e se expressar em outra língua, do esforço para lembrar de palavras e acertar a conjugação do verbo, da tensão de cometer uma gafe cultural involuntária no contato com colegas de outros países. Os funcionários ficam à vontade para se concentrar na sua área de atuação – TI, jurídico, marketing, contabilidade. Não precisam se preocupar em acertar o present perfect, em achar o phrasal verb correto, em saber se a preposição adequada para aquela frase é in, on ou at. E não ficam com a pulga atrás da orelha: “será que estou me fazendo entender? Será que estou entendendo direito?”

Mas talvez o mais importante seja uma questão de inclusão – palavra bonita que a gente tem ouvido muito, e que precisa ser aplicada na prática. Empresas que exigem conhecimentos avançados de inglês como requisito para candidatos e candidatas fecham as portas para uma porção de gente bacana e competente, que poderia oferecer uma baita contribuição (inclusive financeira) para os negócios. Isso tem que mudar, e os intérpretes podem fazer parte dessa transformação. Com a possibilidade de usar a tradução simultânea remota, contratar esse serviço ficou ainda mais fácil e acessível.

É claro que as companhias devem oferecer aulas de inglês para que os colaboradores aprendam, se aprimorem e sintam aquela sensação gostosa de finalmente dominar um novo idioma (todo mundo deveria ter direito a essa conquista, que abre portas para filmes, livros, viagens, comidas, pessoas e avanços profissionais). Mas, enquanto isso não acontece, não deveríamos desperdiçar a oportunidade de contar com tanta gente incrível que está por aí (e por aqui, no LinkedIn) só por falta de inglês fluente. Essa parte, o intérprete resolve. E mais pessoas ganham uma chance para voar.

Texto de Beatriz Velloso.